Bem-vindos ao Backstage Pass, nossa mais nova série de entrevistas que nos levará aos bastidores de artistas influentes e renomados no mundo da música. Na estreia desta série, tivemos o prazer de conversar com Jordan Rudess, um dos tecladistas mais talentosos e inspiradores da atualidade.
Jordan Rudess é um virtuoso pianista, tecladista e compositor mundialmente conhecido por seu trabalho na banda de metal progressivo Dream Theater, e também, pelo supergrupo de metal prog Liquid Tension Experiment, por seu prodigioso trabalho solo e em diversas colaborações com outros artistas. Sua impressionante execução técnica e grande habilidade de improvisação aliada à uma abordagem autêntica no design de som, lhe valeram um prêmio Grammy e uma legião de fãs ao redor do mundo.
Nesta entrevista exclusiva, Jordan compartilha insights sobre seu processo criativo, nos conta quais são seus equipamentos favoritos e os desafios e recompensas de ser um músico de turnê nesta era digital. Sente-se, relaxe e ** prepare-se para entrar nos bastidores do mundo de Jordan Rudess.**
Moises: Para começar, você poderia nos falar de uma experiência ou aprendizado marcante que você tenha vivenciado na escola de música Juilliard School of Music?
Jordan Rudess: Aos nove anos, comecei a frequentar as turmas preparatórias da Juilliard. Fiquei lá durante uns dez anos, e não importa que tipo de música eu faça agora - seja rock, eletrônica, clássica ou jazz - a experiência na Juilliard me preparou para tudo. Foi lá que eu aprendi a praticar, a ser paciente e a refletir sobre os processos na música.
Foi uma experiência muito rigorosa, mas sou grato pela oportunidade e considero que estudar na Juilliard foi uma das coisas que mais me prepararam para a vida. Atualmente estou aprendendo a tocar guitarra, e ainda reflito sobre o treinamento que recebi lá e como ele moldou minha abordagem na música.
M: Qual a diferença entre sua rotina diária e a prática durante uma turnê?
JR: Minha rotina de prática diária varia conforme estou ou não me preparando para uma turnê. Se estou me preparando para uma turnê, eu me concentro profundamente em ensaiar as músicas porque preciso estar totalmente preparado para o palco. A prática, para mim, não se resume apenas a treinar os acordes, é também um exercício de como quero me sentir quando estiver tocando no palco. Calmo e relaxado, por exemplo.
Quando parti para esta turnê atual do Dream Theater, disse um "até breve!" para muitos dos meus instrumentos queridos, como meu piano Steinway e meu novo teclado Osmose da Expressive E porque, afinal, algumas coisas que eu curto fazer em casa não fazem parte do que faço quando estou na estrada.
Outra coisa que acontece durante as turnês é que, depois de tocar em um show, as vezes eu reflito "ok, afinal correu tudo bem, mas talvez eu não tenha me sentido tão fluido ou confortável ao tocar". Então, eu faço anotações, sento no meu camarim e as reviso. Eu tenho um pequeno teclado para praticar enquanto estou no camarim, sabe? Reviso minhas anotações e me certifico de melhorar naqueles aspectos.
Por outro lado, quando não estou em preparação para uma turnê, me permito tocar apenas pelo prazer de traduzir meus pensamentos musicais através dos dedos. Nessas ocasiões, eu gosto de praticar mais guitarra do que teclado, pois a guitarra proporciona uma perspectiva diferente e me ajuda a ganhar mais habilidades. Por exemplo, depois de tocar guitarra direcionando minha vista para o traste, quando eu sento para tocar teclado, minha visão sobre o instrumento muda literalmente, e isso é muito legal.
Outra coisa que considero muito importante é treinar o sentimento ao tocar além de treinar as notas propriamente. O que eu mais gosto de falar para os músicos iniciantes a respeito da prática é que a prática não se trata apenas de tocar notas, seguir acordes ou desvendar um som com os dedos e fazer tudo isso repetidamente. Não se trata disso de forma alguma. Na verdade, depois de aprender o básico e descobrir que dedos você deve colocar para executar certa nota no violão, piano, violino ou em qualquer outro instrumento, você deve começar a treinar o seu sentimento enquanto você toca aquela nota. Porque, se você não treinar seu sentimento ao tocar uma passagem difícil, quando você estiver tocando em público, na frente de seus colegas de classe ou para outra pessoa e houver qualquer momento de tensão, é provável que você falhe.
M: Como é o seu setup?
JR: Meu objetivo é explorar ao máximo o potencial de um ou dois instrumentos. Não gosto de ter um set de teclados com sons diferentes. Eu prefiro me aprofundar em uma única estação de trabalho. Para mim, o Korg Kronos cumpre este papel e é responsável por mais ou menos 95% do meu som. Eu sei como programá-lo para usar ao máximo sua capacidade de sintetização. Através dele consigo samplear sons de diferentes fontes, como o tamborilar de dedos num copo de vidro ou fazer experimentos com meu instrumento virtual preferido.
Outro motivo que me faz trabalhar com apenas um instrumento é pelo aspecto musical. Ficar alternando entre diversos teclados pode prejudicar a performance do tecladista. Por isso, eu uso um pedal para variar entre as diferentes combinações de sons no Kronos sem sequer tirar minhas mãos do teclado. Isto me permite tocar suavemente e obter os sons que eu quero sem distração. Durante um show, eu faço cerca de 400 mudanças de som, geralmente. Tudo graças ao meu infalível Kronos.
M: Quais são seus desafios na música?
JR: Como músico, acho que é importante reconhecer nossas limitações e construir um vocabulário musical de coisas que podemos fazer. Pratiquei coisas específicas e aprendi diferentes riffs que se tornaram minha expressão, minha linguagem musical. Entretanto, há um limite no meu vocabulário. Afortunadamente, sou constantemente inspirado por diferentes perspectivas sobre música ao redor do mundo.
Por exemplo, eu inventei um aplicativo com meus companheiros da Universidade de Stanford, chamado GeoShred. A intenção era proporcionar às pessoas uma nova abordagem de pitch-bending, e então eu vi que pessoas na Índia usam o app para tocar música carnática, controlando o pitch de uma forma que eu mesmo não consigo.
Estou sempre tentando aprender algo e continuar evoluindo, mas às vezes isso se torna desafiador, como, por exemplo, aprender guitarra depois de tocar piano por 59 anos. É importante ter paciência quando estamos aprendendo algo na música. É como aprender um novo idioma, - o que eu admiro porque não é fácil e provavelmente exigirá esforço - mas temos que estar dispostos a encarar alguns obstáculos e sermos mais pacientes com outros.
M: Qual é a sua funcionalidade favorita no Moises App?
JR: É difícil escolher apenas uma funcionalidade do Moises App porque é justamente a combinação de todas que o torna incrível. Mas se eu tivesse que escolher, diria que o Metrônomo Inteligente é realmente sensacional. Quando eu envio um arquivo de áudio, o app descobre o ritmo automaticamente, sem que eu informe qualquer BPM, e eu nunca vi acontecer nenhum equívoco. Além disso, posso cortar o tempo pela metade ou dobrá-lo e definir um metrônomo para tocar junto com a música que acabei de enviar. É realmente inteligente e inovador.
Mas isso não é tudo. A função de Separação de Faixas por IA é maravilhosa por si só. Depois de separar as pistas, posso equilibrar o volume de cada instrumento em um controle independente. Outra coisa, que às vezes esqueço, é que o aplicativo também exibe os acordes perfeitamente sincronizados. Isso facilita muito as coisas para mim, especialmente quando quero fazer duetos virtuais. Não tenho que escrever nada - apenas olho para os acordes mostrados na tela.
Em geral, acho que a interface do aplicativo é muito clara e intuitiva. É emocionante viver em uma época de tecnologia musical tão avançada, e eu acordo todos os dias animado para explorar as funcionalidades incríveis que o Moises App proporciona.
M: Qual foi o último artista ou gênero musical que você tocou com o Moises? Qual o motivo dessa escolha?
JR: A última coisa que eu subi para o Moises foi uma música do Jeff Beck. E foi muito interessante porque a faixa não tem vocais, certo? Então, funcionou mais ou menos como um teste para o recurso de separação de áudio. Geralmente, trabalhamos com faixas de vocais, baixo, bateria e piano separadas. E eu consigo fazer isso com o Moises. Eu desacelerei a música, consegui extrair o que eu precisava e remover o que eu queria descartar.
Quanto a algo que eu quis fazer para apresentar ao público, foi uma faixa de Mathews Pelli. Funcionou tão maravilhosamente bem, que fiquei pensando: "Uau, como é possível?". Mesmo sabendo um pouco como a mágica acontece, gostaria de entender mais… pois, aparentemente, você envia seu áudio, e os bruxos pegam uma varinha mágica, conjuram algum feitiço sobre o arquivo, e depois o enviam de volta para você. É…talvez seja assim que o Moises funciona, afinal.
M: Quais são suas lembranças favoritas ao trabalhar com música?
JR: Sempre me recordo com muito carinho dos meus amigos da Juilliard. Lembro que eu costumava fugir para uma sala de prática o mais longe possível do estúdio do meu professor porque queria tocar blues, boogie-woogie, jazz - e não só música clássica.
Quando eu tinha uns 13 ou 14 anos, produtores de comerciais vieram à Julliard em busca de pianistas para fazer uma audição para uma propaganda do Band-Aids, da Johnson & Johnson 's. O presidente da escola avisou para o meu professor e, então, eu e meus pais fomos para a audição.
Quando cheguei lá, havia cerca de 70 atores infantis e somente alguns músicos da Julliard. Eles me pediram para tocar uma peça de música fazendo uma atuação dramática, com meus cabelos longos. Toquei um arranjo do concerto para piano de Grieg e ganhei a audição, passando à frente das crianças que estudavam atuação.
Passei um dia inteiro tocando piano no estúdio de gravação e no dia seguinte, toquei no Hotel Plaza. Gravamos no salão de baile. Usei traje de cauda e toquei em um piano de nove pés no palco do salão. Toda essa experiência foi muito divertida! O comercial foi ao ar e está disponível no YouTube para quem quiser conferir.
E claro, entrar para o Dream Theater foi um passo importante que expandiu meus horizontes. Ao longo dos anos que tenho tocado com o Dream Theater, fiz grandes amigos ao redor do mundo e tive muitas experiências incríveis tocando por diferentes cidades interessantes. Tem sido uma jornada fantástica e acho que no que diz respeito às lembranças, as coisas mais fáceis de lembrar são os shows maiores, que são realmente muito emocionantes.
É simplesmente surreal! Por exemplo, recentemente tocamos no Rock in Rio, no Brasil e foi inacreditável. Eu não sei quantas pessoas estavam lá, acho que umas 80.000... Até onde a vista alcançava, em todas as direções, podíamos ver que o lugar estava completamente lotado. E ao subir no palco, veio aquela pressão, um tipo de energia avassaladora que emana da multidão quando estamos entrando no palco. Isso quase me deixou paralisado.
É preciso muita experiência para não congelar nessas horas. E é justamente por isso que eu falo sobre praticar o mindset que você quer ter ao tocar, pois, sem este treino, você pode ficar intimidado pela tensão e então, não será capaz de fazer o seu papel.
M: Como você quer ser lembrado como músico?
JR: A coisa mais importante para mim é que o que eu comunico com a música, vem do coração. Eu toco diferentes tipos de música, música com muita técnica, música progressiva, diferentes gêneros musicais e suas variações... Mas quando toco e alguém sente algo que lhe é muito particular, algo que lhe aquece a alma e o coração, que traz relaxamento ou, simplesmente, uma experiência positiva... É nisso que quero ser lembrado.
Seja performando a faceta do rock na minha música, ou através de uma improvisação no piano, colocando pra fora algo que estava aqui dentro… o que eu mais quero é que o que eu faço toque as pessoas. É claro que como músico, há coisas que eu faço que podem ser deixadas para trás. Mas, se eu conseguir emocionar as pessoas com a minha música e fazer elas se lembrarem de mim por isso - ficarei realmente feliz.
M: Fazer o básico ou ser ousado?
JR: Quando se trata de tocar música, acredito que é sempre possível criar um ótimo som, não importa qual seja a capacidade técnica de alguém. Eu encorajo os iniciantes a se concentrarem em fazer um som legal e a não tentarem tocar algo que é muito difícil para eles. Tocar acordes simples com intenção e foco pode produzir um resultado realmente agradável musicalmente e ser uma experiência positiva e gostosa tanto para quem toca quanto para quem ouve.
Tocar dentro da nossa zona de conforto pode ser uma coisa boa, mas nem sempre convém se quisermos evoluir na habilidade. Na vida, precisamos estar dispostos a enfrentar as dificuldades e estarmos abertos a novas experiências. O esforço não tem que ser doloroso, mas requer paciência e vontade de aprender, lidando com a frustração que faz parte desse processo.
Eu, por exemplo, atualmente estou treinando uma técnica de guitarra que é desafiadora, pois envolve arpejos de três oitavas. Me exige muita paciência e esforço. Mas com tempo e prática, sei que posso melhorar e eventualmente dominar esta técnica. Em geral, acredito que criar boa música requer um equilíbrio entre tocá-la com conhecimento e também ir além da zona de conforto para aprender e evoluir suas habilidades.
Ficou curioso para ver a entrevista completa do Jordan Rudess? Confira no vídeo abaixo ou diretamente em nosso canal no Youtube!
Fique ligado e acompanhe as próximas entrevistas do nosso Backstage Pass, onde vamos conhecer processos criativos, insights e experiências de outras personalidades influentes do mundo da música.